Pensei num determinado momento e decidi que ali seria o início.
Então comecei a caminhar por entre as quatro estações.
Lembro-me que era outono. Na verdade, fiz essa dedução me baseando nas árvores despidas. Não havia calendário, bússola ou qualquer outro meio capaz de me situar dentro do tempo, dentro de lugar algum. Só havia uma certeza: eu estava dentro de mim.
E passeando por aquele imenso bosque, pisando nas folhas que margeavam o caminho, eu me encantava com toda a paisagem. Nunca imaginara existir algo como tal, dentro de mim.
Era um vermelho-amarelo, fim de tarde e tocava uma canção no céu estrelado.
Ao lado, um rio com um convite: sente-se em minhas margens e sinta toda a minha beleza, numa agradável conversa onde só eu e você podemos confessar tudo o que sabemos um do outro...
E fui-me. Mas quando me acomodei às margens, uma estranha brisa apagou o céu e trouxe consigo um balde com tinta roxa, o qual acabou tendo por derramado metade de seu conteúdo, deixando tudo num tom cinza-roxo de inverno.
Levantei-me e notei que a paisagem já não era a mesma. Não havia mais as folhas no chão, que agora estava úmido, tal como após uma longa noite de orvalho.
Nesse instante a chuva caiu e formou-se uma enorme poça vermelha, onde os pingos refletiam um reluzente tom brilhante. Era o meu coração.
Ele estava molhado e repleto de lama, mais ainda assim encantava por seu brilho, que substituía o luar. Seus batimentos não passavam de algo mais que zero na escala Richter, formando um completo paradoxo devido o tamanho estrondo que senti quando pensei no seu nome.
Parecia que estava ensaiado. Foi pensar em você e quase tudo virou primavera. Somente a poça não se rendeu, permanecendo molhada, com seus pingos que ainda resistiam apesar de finda a chuva.
As flores sorriam para mim. Acabavam de sair de um gostoso banho, exalando seus perfumes e beleza. Uma nudez sem igual, embriagante aromaticamente ao ponto de que quando me dei conta, estava deitado num jardim, de confortável gramado com rosas vermelhas e um único girassol entre elas.
Ele era supremo, enigmático e hipnotizante. E ali estava, dentro de mim.
Não consegui levantar-me quando avistei sua silhueta no horizonte. As pernas não respondiam e o meu coração estava acelerado. Olhei novamente e não mais a enxerguei. Fiquei cego. Totalmente cego. Mas nunca desisti de levantar e caminhar, me apoiando por entre as rosas que estavam repletas do sangue que escorria de minhas mãos, furadas pelos espinhos daquele belo caminho que não enxergava, mas sabia, que ao final, me levaria a você.
Senti o chão quente e seco. Sem mais nem menos a temperatura elevou-se trazendo todo aquele calor. Conforme escorria por entre meus olhos, aquele suor lentamente me trazia de volta a visão. Quando eu enxerguei novamente, estava num deserto, solitário. Um calor sem igual, uma sede sem saliva. Tinha certeza, era o verão.
Mas, como?
Como, um verão sem alegria?
Como, um verão com sede?
Como, um verão solitário?
Não encontrei resposta alguma. Apenas caminhei por entre o deserto, totalmente acabado, cansado, de mim mesmo. E não resisti. Desmaiei.
Na escuridão que agora habitava, tudo era confuso. Assim, também eram as estações que mudavam sem ordem, nem critério, bem como meu coração sem nexo. Eu mesmo não me conhecia. Não sabia da imensidão do meu próprio Eu.
Quando voltei para esse mundo, estava certo de que algo anteriormente tinha me acontecido, mas não lembrava.
Decidi que escreveria sobre tudo isso que habitava em minha mente após essa experiência esquecida.
Mas realmente não me lembro. Esqueci. Só tenho uma vaga lembrança, que se resume numa única frase, que até já li num outro lugar...
JUNIOR